Pontos principais desse artigo:
- A aceleração e o excesso de conteúdo das mídias digitais podem estar funcionando contra elas;
- Anúncios digitais e posts de redes sociais já não surtem o mesmo efeito;
- Por outro lado, a escassez característica de algumas mídias tradicionais traz oportunidades de marketing e negócios interessantes;
- Além disso, mídias tradicionais não estão tão enfraquecidas assim; elas ainda têm uma adesão considerável e alto grau de confiança dos consumidores;
- Por isso, algumas marcas estão voltando a apostar em mídias tradicionais como o rádio, TV e mídia impressa;
- O caminho para a publicidade e a distribuição de produtos será a coexistência das mídias tradicionais com as digitais e outras que ainda podem surgir; contando ainda com a possibilidade de que mídias “mortas” possam voltar.
Quanto mais o TikTok cresce, quanto mais a mídia impressa se torna obsoletas, quanto mais o mercado de podcasts cresce enquanto jovens sequer conhecem alguma estação de rádio, quanto mais as pessoas dizem que preferem a Netflix à TV … mais parece que o digital é o único caminho possível para o marketing, a comunicação e os negócios do entretenimento.
Mas será que já dá para “largar” as mídias e plataformas tradicionais?
Na verdade, as mídias tradicionais ainda têm uma adesão e impacto consideráveis.
O rádio ainda é peça chave em estratégias de música
Na música, por mais que o streaming tenha se tornado o principal meio de consumo de música, o rádio ainda é fator de peso para:
- recolhimento de direitos autorais e conexos;
- divulgação de músicas e artistas novos;
- contar “pontos” em paradas musicais como a Billboard ou os Crowley Charts do Brasil.
Na moda, a escassez das mídias tradicionais se tornou oportunidade de negócios mais cobiçados
Na moda, por mais que as redes sociais como Instagram, Pinterest e TikTok sejam hoje as principais “revistas de moda”, a escassez de revistas impressas têm tornado ainda mais atrativas as oportunidades de anunciar nessas revistas.
Para modelos e celebridades, capas de revista de moda impressas também têm se tornado mais cobiçadas, de acordo com agentes entrevistados pelo site The Business of Fashion.
Afinal, revistas impressas agora são mais raras: elas custam mais para serem produzidas, impressas e distribuídas; e por isso, um investimento tão grande deve ser justificado por um processo mais seleto de escolha do que (ou quem) vai aparecer nessas revistas. E diferentemente dos posts de rede social, que têm uma “vida útil” curta, as revistas impressas podem até mesmo tornar-se itens de colecionador.
Na publicidade, mídias tradicionais ainda gozam de confiança do consumidor
Em abril de 2022, a Harvard Business Review publicou um artigo sobre como o marketing está fazendo um caminho de volta para a publicidade tradicional.
Segundo os dados coletados pelos autores, ainda existe um alto grau de confiança na mídia impressa, na publicidade feita na TV, e até mesmo no rádio. Então, essas mídias ainda são ferramentas poderosas para construir estratégias de comunicação e despertar a confiança nas marcas.
No Brasil, essa realidade pode ser provada pelos dados sobre investimento em publicidade. Segundo relatório do Cenp-Meios (do Fórum da Autorregulação do Mercado Publicitário), a TV aberta ainda concentra os maiores investimentos em publicidade. Em 2021, foram R$ 8,96 bilhões investidos em TV aberta, contra R$ 6,6 bilhões investidos em Internet
Tudo isso mostra que as mídias tradicionais não podem ser dadas como “mortas”. E além de tudo isso, ainda existe a possibilidade de que muitas dessas mídias venham a ganhar ainda mais força.
A publicidade digital já não surte o mesmo efeito
Isso porque algumas das características das mídias digitam podem, na verdade, estar funcionando contra elas. Anúncios digitais e posts em redes sociais podem ter um custo menor e exigir um esforço menor de produção e publicação, mas por outro lado, também são consumidos de forma mais rápida e são mais facilmente esquecidos.
Não é de se espantar que as mídias tradicionais estejam voltando a fazer parte das principais estratégias de marketing e comunicação.
No artigo da Harvard Business Review que mencionamos anteriormente, os autores afirmam que os consumidores estão se tornando cada vez mais “entorpecidos” pela publicidade digital.
Como muitas pessoas estão passando horas demais online, elas ficam mais expostas a uma quantidade excessiva de publicidade digital, e assim, esses anúncios já não geram o mesmo efeito.
Existem lacunas geracionais no consumo de mídias tradicionais e digitais, mas também existem exceções
Além de ainda contar com a audiência dos Boomers, Geração X, e alguns Millennials, há casos pontuais em que as mídias tradicionais também furam a bolha dessas gerações e chegam até os mais jovens (Gerações Z ou Alpha).
Por exemplo, em 2022, a novela “Pantanal”, da Rede Globo, conseguiu a proeza de atrair gerações mais jovens para assistir TV em suas primeiras semanas.
O futuro do marketing e dos negócios de entretenimento envolve todos os tipos de mídia
Tudo indica que o futuro para o marketing, comunicação e a indústria do entretenimento é realmente a coexistência das mídias tradicionais com as digitais e outras que ainda podem surgir; contando ainda com a possibilidade de que mídias “mortas” possam voltar.
Se por um lado, isso significa mais oportunidades de divulgação de anúncios e distribuição de produtos, ao mesmo tempo significa que há um número maior de escolhas a serem feitas sobre os investimentos das marcas; e claro, significa que há necessidade de um cuidado mais atencioso com os direitos de propriedade intelectual envolvidos em tantas formas diferentes de uso de marcas e direitos autorais.
Artigos mencionados neste post:
A Survival Strategy for Fashion Magazines, Alexandra Mondalek. The Business of Fashion, 21/03/2022.
Publicidade brasileira movimentou R$ 20 bilhões em 2021, Renato Pezzotti. UOL Economia, 21/03/2022.
Pantanal está ajudando a trazer os jovens para a TV aberta, Patrícia Kogut. O Globo, 06.05.22.
Why Marketers Are Returning to Traditional Advertising, Christine Moorman, Megan Ryan, Nader Tavassoli. Harvard Business Review, 29.04.2022.
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